sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Legado de Thatcher

Em   Por Rodrigo Constantino

thatcher
Em 1925 nascia Margaret Thatcher, filha de um pequeno comerciante e que se tornaria a maior estadista do século XX, mesmo concorrendo com gigantes como Churchill e Reagan. Ela faria 90 anos hoje, se estivesse viva. Abaixo, uma justa homenagem à “dama de ferro”, uma mulher de verdade que mudou o mundo para melhor. Primeiro com uma resenha que escrevi do pequeno livro de Niall Ferguson sobre Thatcher, e depois com uma palestra que proferi sobre seu legado:
Thatcher: a prova de que indivíduos fazem a diferença
Em um livro extremamente conciso, o historiador econômico Niall Ferguson fez um ótimo resumo da trajetória e da importância de Margaret Thatcher para o Reino Unido e o mundo. Ler Always Right (por US$ 2,66) é tarefa de apenas uma hora, e o investimento tem alto retorno. Serve para manter acesa a chama da esperança.
Afinal, os historiadores modernos tendem a negligenciar a importância de atos individuais no curso da história, mas eles fazem toda a diferença, como reconhece Ferguson. Muitos esquecem como estava a Inglaterra naquela época. A inflação chegou a quase 30% em 1975, o clima era de desesperança, os britânicos flertavam com o socialismo e as greves eram diárias, enquanto os serviços públicos simplesmente não funcionavam.
Thatcher surgiu em cena alegando categoricamente que seu trabalho era impedir que o Reino Unido virasse vermelho. Seu discurso era agressivo contra o status quo, não uma contemporização moderada e em cima do muro. Rejeitava clara e abertamente o modelo de estado paternalista e centralizador, que ditava os rumos da economia e da vida dos cidadãos.
Cada um deveria ter o direito de trabalhar com o que quisesse para se sustentar, gastar seu salário como lhe aprouvesse, ter sua propriedade garantida e protegida. O estado passaria a ser visto como o servidor do público, e não seu mestre. Eis a essência de uma economia livre. E era nisso que Thatcher dizia acreditar sem rodeios.
Sua retórica era quase escatológica: “Não existe alternativa”. Foi o que declarou em 1980. Ou os britânicos mudavam radicalmente a direção, ou afundariam. Havia resistência a esse “radicalismo” mesmo em seu partido, mas Thatcher deixou claro para os colegas Tories: “Vocês mudem o curso se desejarem, mas essa senhora não é de mudar o curso”. Ela sabia o que devia ser feito, e estava disposta a fazê-lo, mesmo pagando o preço.
O pano de fundo ideológico foi importante para suas mudanças. O Institute of Economic Affairs, criado em 1955, foi fundamental para divulgar os valores da economia de mercado, e seus líderes tiveram papel importante na formação econômica da própria Thatcher.
O papel da imprensa também foi importante. Os proprietários e editores de jornais, como Rupert Murdoch e Conrad Black, ou Charles Moore da Spectator, tiveram coragem de bancar as reformas necessárias mesmo contra a oposição organizada da esquerda reacionária que temia perder privilégios. Foram soldados importantes na batalha liderada por Thatcher.
Uma revolução capitalista ocorreu no país. Uma onda de privatizações permitiu incrível melhoria nos serviços, os ativos se valorizaram e o próprio povo se beneficiou disso como acionista, a inflação foi derrotada e a classe média se fortaleceu muito. Sacrifícios foram necessários no curto prazo, mas valeram muito a pena. O Reino Unido voltava ao posto de líder da Europa, após grande decadência.
Mas a economia está longe de ter sido a única fonte de revolução do Thatcherismo. Os trabalhistas, na época, defendiam o desarmamento nuclear unilateral da Inglaterra, o que poderia ter sido fatal ao país. Thatcher não iria amolecer com os comunistas, e é preciso lembrar que ainda se vivia na Guerra Fria, sem expectativa de término iminente.
A postura de Thatcher nos assuntos externos era realista e firme. Foi assim nas Falklands com a Argentina, mesmo quando até Reagan parecia não dar apoio; foi assim na questão do IRA na Irlanda; na permissão a Bush (pai) para usar as bases militares inglesas contra o Iraque; ou mesmo na percepção de que, com Gorbachov, havia a possibilidade de diálogo. Intransigente e pragmática na medida certa.
A mudança cultural também foi relevante. A famosa frase “não existe sociedade, apenas indivíduos” precisa ser colocada em contexto. Thatcher defendia a ajuda ao próximo, a preocupação com o entorno, mas rejeitava veementemente a dependência estatal, ou seja, mecanismos de incentivo inadequados que premiavam o “parasita” em vez do trabalhador. O “estado-babá” não teria mais vez com ela.
Em suma, como resume Ferguson, Thatcher estava certa sobre as principais coisas importantes. Sobre as máfias sindicais, sobre a inflação como fenômeno monetário, sobre as indústrias nacionalizadas como obstáculo ao progresso, sobre a ingenuidade dos trabalhistas na questão da Guerra Fria, sobre a importância da integração comercial na Europa, sobre a oposição à moeda comum etc.

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