sexta-feira, 18 de julho de 2014

“O mercado tem que funcionar”, afirma Pastor Everaldo em entrevista ao blog

Pastor Everaldo

Recebi hoje o candidato a presidente pelo PSC, Pastor Everaldo, para um bate-papo de uma hora. Abaixo, os principais trechos da entrevista:
Seu partido fez parte da grande coalizão do governo sob o comando do PT. Por que romper? Por que se colocar agora como oposição ao modelo atual?
Quando a parceria foi realizada, havia uma esperança de que o projeto seria inclusivo, tinha uma proposta de melhorar a vida dos excluídos. Na época da eleição de Dilma, o partido já estava mais dividido, não havia a convicção de que aquela era a melhor alternativa para o país. Mas, como milhões de brasileiros, nós também acreditávamos que era possível fazer alguma coisa nesse sentido. Quando Dilma montou seu governo, vimos que não seria bom para o país. No dia 25 de janeiro, portanto logo depois de ela ter assumido, o partido reunido decidiu que teria candidatura própria, pois nenhum lado – nem PSDB, nem PT – representava nossos ideais. Ficamos na base parlamentar, mas nunca fomos governo, nunca tivemos nenhum “garçom” no governo. Aquilo que representava o melhor para o Brasil, o partido acompanhava, e o que ia contra a população em geral, votava contra.
Quais seriam os principais pontos negativos do governo Dilma?
A primeira coisa que não é muito notada pela população em geral é o aparelhamento do estado, o inchaço da máquina pública. Inverteu-se a lógica: enquanto o Estado existe para servir a população, esse governo que está aí se serve, suga tudo do cidadão brasileiro, com uma das cargas tributárias mais elevadas do planeta. Temos impostos de primeiro mundo, mas os serviços não são nem de terceiro mundo, mas de submundo. Para nós, o governo deve atender a população, não o que vemos hoje. Por exemplo, o governo hoje é até plantador de cana, tem posto de gasolina. Foi feita uma concessão do aeroporto de Brasília – eu faria privatização mesmo, sem esse financiamento do BNDES, que usa dinheiro do povo – e já tivemos bons resultados. Eu sou a favor da privatização. No Rio de Janeiro, o Galeão está pior do que a rodoviária do Novo Rio. O dinheiro do BNDES tem que ser para fomentar o pequeno e médio empreendedor brasileiro. Os grandões apaniguados conseguem financiamento, e sabe-se lá com que lobby e comissão isso acontece. Nosso parâmetro é esse: enxugar o estado, a máquina, cortar na carne, para poder atender no básico, que é saúde, educação e segurança. Eu vim de uma comunidade humilde, era camelô na feira muito novo, mas tive acesso a uma boa educação pública.
Sua visão de estado seria, então, contra o paternalismo e favorável à meritocracia? Qual sua visão do Bolsa Família?
100% a meritocracia. Não podemos deixar nossos irmãos brasileiros com fome, isso é um princípio cristão, repartir o pão. As pessoas devem ter condições, mas é preciso trabalhar. Está escrito: com o suor do teu rosto comerás o pão. Sou um dos principais responsáveis pelo primeiro Bolsa Família que teve nesse país, o Cheque Cidadão, que foi adotado no Rio de Janeiro em 1999. O objetivo era que a família pudesse ter comida e material de higiene, mas era obrigatório ter a carteira de vacinação em dia e os filhos na escola. Esse era o foco principal. Acredito nisso. Cada família quer ter a oportunidade de vencer na vida, ter carteira assinada. A proposta é oferecer capacitação para que cada um possa ser inserido de verdade no contexto nacional. Essa é a porta de saída. Devemos celebrar quando cada um consegue vencer na vida.
No Brasil, o poder é muito concentrado em Brasília, e os milhares de municípios acabam reféns do governo central. Qual a sua visão sobre o federalismo?
Hoje, os municípios arrecadam 12% do total, os estados em torno de 23%, e o governo federal o restante. Defendemos um pacto federativo em que os municípios teriam uma participação maior nesse bolo, assim como os estados. Precisamos de mais Brasil e menos Brasília. O cidadão está no município, é ali que ele mora, paga imposto, precisa de segurança, vai ao trabalho. Faremos uma reforma administrativa, cortando na carne mesmo, para que possamos dividir com maior equidade esse bolo para os entes federais.
O senhor já disse que pretende cortar os ministérios quase pela metade. Poderia dizer quais seriam extintos?
Estamos estudando com atenção isso, e achamos que é possível ter apenas 20 ministérios. Há, por exemplo, um ministério que chamo de Ministério da Enrolação Institucional. Como a atual presidente não quer conversar com ninguém, precisa ficar enrolando. Hoje tem Secretaria da Aviação Civil, Secretaria de Portos, dá para enxugar muita coisa.
Qual a sua opinião sobre o tripé macroeconômico, formado pelo câmbio flutuante, a responsabilidade fiscal e um Banco Central independente ou com autonomia para perseguir a meta de inflação?
Temos analisado vários exemplos do mundo, e não há um só caso com total independência do Banco Central. Meu estilo seria na linha de Henrique Meirelles, com relativa independência. O câmbio flutuante, o mercado tem que funcionar. E responsabilidade fiscal, não tem jeito. Tem que apertar o cinto, todo mundo deve contribuir. Isso que está acontecendo nem é contabilidade criativa, mas malvada, perniciosa, uma coisa fraudulenta, feita para enganar mesmo. Em resumo, o retorno do tripé macroeconômico fará parte do meu projeto de governo.
Brizola foi uma influência em sua visão política, e era um nacionalista, acreditava na ideia de formar campeões nacionais. Qual sua opinião sobre o protecionismo comercial?
A liberdade tem que ser a máxima possível. Em algum momento pode ser necessário agir para evitar uma catástrofe, pontualmente, para salvar em caso de necessidade. Mas temporariamente, e isso deve ser a exceção, não a regra.
O Brasil tem, além de uma carga tributária absurda, grande complexidade de impostos, um verdadeiro “manicômio tributário”. Qual a sua proposta para reforma tributária?
A nossa ideia é fazer todo o possível para que não aconteça como aquele livrão com toneladas só de legislação. Ou seja, a ideia é mesmo simplificar, e abolir algumas contribuições. Vamos extinguir 1/20 ao ano, sem sermos levianos. Cofins, CSL, isso tudo nós vamos extinguir. Hoje vai só para o governo federal. Se queremos ter um país daqui a cem anos, todo mundo tem que contribuir. Como dizia Lincoln, um exemplo vale mais do que mil palavras. Como o governo atual não é transparente, todo mundo fica com o direito de não sê-lo. O governo tem que dar o exemplo.
Há um elefante na sala que todo mundo finge que não existe, pois estoura só lá na frente. Falo do rombo previdenciário. Qual a reforma previdenciária que o senhor pretende propor?
A taxa de natalidade hoje está muito baixa, em torno de 1,8. Nem repõe o casal. Temos um envelhecimento fora da pirâmide normal. Vamos tratar isso com o carinho que se deve ter. Não vamos massacrar o aposentado. Defendo a extinção do fator previdenciário. Acredito que com a formalização da economia, trazendo esses 40 a 45% que ainda estão na informalidade, simplificando o estado e facilitando as condições para que essas pessoas venham para a formalidade, isso vai ajudar a estancar o rombo da Previdência. O equilíbrio virá da inclusão desses novos contribuintes. Há ainda muitos penduricalhos, muitos que foram incluídos na Previdência sem sentido. Devemos fazer um estudo para consertar isso.
O Mercosul está completamente ideologizado, e muitos falam da infiltração dos “barbudinhos” do PT no Itamaraty, deixando de lado o interesse nacional. Qual a sua visão sobre a política externa do país?
A política externa foi um dos pontos na discussão para apoiar ou não a atual presidente, e eu coloquei que, lamentavelmente, o governo o tempo todo se alinhou com os ditadores do mundo. Precisamos de uma nova abertura dos portos, para o mundo todo. Procurar parceiros para nosso desenvolvimento, respeitando as escolhas de cada povo, mas valorizando a questão democrática. É preciso combater esse aparelhamento da política externa atual.
Muitos falam hoje em degradação de valores morais da nossa sociedade. A família, por exemplo, sofre ataques constantes dos progressistas. Qual a sua visão sobre isso?
Acreditamos na família como está na Constituição brasileira, que é entre homem e mulher. Agora, vivemos em uma democracia, felizmente. Isso aqui não é Venezuela ou Cuba. Eu tenho direito de defender meu ponto de vista, e cada cidadão tem o direito de escolha do que ele quer da sua vida. Não é o estado que vai dizer o que ele deve fazer. O cidadão tem que ser respeitado.Defendemos isso sem preconceito, sem querer segregar a população. Mas há valores que têm se perdido hoje, e preocupam mais. Alegam que nunca se prendeu tanta gente, mas nunca se viu tanta corrupção. O exemplo vem de cima. O sujeito acha normal o “gatonet”, o “gato” de luz. A criança vê o pai fazendo um “gato” e acha que pode fazer um “tigre” na frente. Esses valores é que temos que recuperar. O respeito ao próximo: a minha liberdade termina onde começa a do outro. A mudança deve vir de cima, e a máquina estatal precisa ser desinchada, pois estimula essa situação.
O senhor é o candidato dos evangélicos?
Sou um evangélico, mas sou um cidadão comum. O Brasil é um país laico, graças a Deus! Sou o candidato do Partido Social Cristão, que não é um partido religioso nem de igreja, mas um partido que se norteia por princípios cristãos. Quando Jesus diz que devemos amar o próximo, isso é um valor que serve para todos. Se eu quero boa educação para mim, então quero para meu próximo. Se quero boa saúde, então vale para todos. Se a pessoa acredita ou não em Jesus, isso é questão da fé pessoal de cada um. Mas o princípio que ele deixou independe disso.
O PT em particular e a esquerda em geral adotam a velha tática de dividir para conquistar, segregando a população brasileira em conflitos, colocando empregado contra patrão, mulher contra homem, gay contra heterossexual, negros contra brancos. O que pensa disso e qual a sua opinião sobre as cotas raciais?
Minha opinião é realmente oposta a essa. Vai contra o princípio universal que acabei de defender. Se você ama o próximo, então essa divisão toda não faz sentido. Em relação às cotas, eu sou contra. Sou a favor da meritocracia. Vamos sempre defender isso: dar condições, ter escolas públicas de boa qualidade. Hoje as pessoas não aprendem a ler e fazer conta direito. Basta ver nossas posições nos rankings de ensino.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) protege verdadeiros criminosos hoje. A impunidade acaba sendo um convite ao crime. Qual a sua opinião sobre a maioridade penal?
Nosso partido já apresentou projeto para a redução da maioridade penal. Nossa ideia é trazer o jovem para uma inserção de aprendizado, treinamento, aproveitar as Forças Armadas, que hoje estão sucateadas. Se a pessoa comete um crime, então ela tem um potencial que está encaminhado para o mal. Então vamos tentar caminhar isso para o bem, para o esporte.
Ao analisar essas propostas, vemos um alinhamento maior com a candidatura de Aécio Neves do que de Dilma. Em um eventual segundo turno, qual dos candidatos hoje na frente o senhor apoiaria?
Confesso que nunca pensei nessa hipótese. Tenho uma convicção de que vou para o segundo turno, e vou ganhar as eleições.
Fonte: blog do Rodrigo Constantino

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