sábado, 7 de maio de 2011

Carta de uma mãe que perdeu o filho policial




O soldado Paes morreu quando, cumprindo seu dever profissional, tentou evitar um assalto a uma padaria em Sobradinho, deixando a esposa e um bebê, de apenas um mês de idade. Era um policial dedicado, exemplar e que amava a corporação. Uma semana antes de morrer, foi homenageado por participar do quadro de ocorrências de destaque. Esta é a carta que a mãe dele escreveu para o Comandante Geral da PMDF:


Senhor Comandante,

Sou alguém que certamente não fará parte de seu convívio, pois o liame que nos conectava foi partido de maneira abrupta. Mas a vida é feita de pequenos momentos e pequenos gestos, e mesmo atravessando o mais triste tempo do meu viver, não poderia deixar passar despercebido o seu gesto, que a princípio pode parecer pequeno, mas que para nós da família que estamos vivendo um pesadelo, é muito significativo.

É importante saber que meu filho não foi só um número e um nome de guerra, e que numa instituição hierarquicamente tão severa existe espaço para sentimentos humanitários e fraternais. Que o respeito ao ser humano vem antes das convenções. Perdi, perdi muito, como mulher, como mãe, fiquei mais triste, perdi um filho, vocês também, perderam, perderam um soldado, um guerreiro, que amava esta instituição com todas as fibras de seu ser, pois ser policial não foi um emprego, não foi falta de opções, porque ofereci ao meu filho muitas. Sua meta de vida estava traçada e nada nem ninguém poderia dissuadi-lo.

É gratificante saber que onde ele estiver continuará se sentido orgulhoso de ter feito parte desta corporação. Como ele, ela é feita de homens que respeitam os direitos alheios e mais que isto, são humanos, pois a dureza do dia a dia não corroeu o sentimento de solidariedade e fraternidade que habita em todos vocês.

Simbolicamente ele foi seu filho, porque além de nós, seus pais, nesta vida, ele se submeteu com prazer e devoção apenas a vocês. Meu filho foi muito bem criado, muito bem amado e sempre o ensinei a andar de cabeça erguida, a não se curvar diante de nin­guém e que um homem só pode conquistar isto, se for honesto e justo. Estes meus ensinamentos se agigantavam quando ele vestia a farda e saía nas ruas representando esta instituição, porque se so­mava a ele o fato de não se curvar diante de indignidade, da iniqüidade, da injustiça, da babárie. Tenho consciência que eles não mataram o meu filho por ser meu filho, não se mata a quem não tem desafeto e que não dê motivos para tal. Eles mataram aquele que se pronunciou e reagiu, independente das circunstânci­as, ele poderia ter se omitido, mas jamais o faria, neste momento ele foi mais seu que meu.

Eles não mataram meu filho que era policial, eles mataram o policial que era meu filho. Perdi eu, perderam vocês, perdeu o mundo, pois além de tudo que já externei, ele era todo alegria, vivia sorrindo e espalhando amor e simpatia.

Em suma, não poderia deixar de agradecer e render minhas homenagens ao apoio, ao carinho, ao respeito que tiveram e estão tendo pelo meu filho, pelo seu filhinho, sua esposa, pela nossa família, isto não o traz de volta, mas gratifica, conforta e reforça que apesar do que aconteceu ele fez sua escolha de maneira correta, pois fazia parte de um escol de homens de bem.

Talvez este seja o nosso primeiro e último contato, mas ao Senhor e a todos, todos indiscriminadamente, que fazem parte da família do 14º BPM, nosso respeito e nossa gratidão, em meu nome e de toda a minha família.

Milbene da Cunha Paes - mãe de policial militar
Fonte: blog Universo Policial

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